sexta-feira, 7 de junho de 2013

O estatuto do nascituro, a última a sair apague a luz?

Eu senti como se o chão tivesse sido tirado dos meus pés. Um queda sem fim se tornou a vida no Brasil para mim a partir de hoje. As atitudes das pessoas e do governo em procurar levar a sério tal estatuto estrapolou a fronteira da loucura. Não há mais aparências, não há como ponderar, podemos homologar em qualquer estereótipo sobre nós, o país das mulheres-frutas, sem vontade, sem cérebro, sem autonomia, sem direitos, só deveres.

Dever da mulher brasileira - se resignar. Cuidar de uma "família", mesmo sendo ela fruto da violência, mesmo sendo ela, um ódio ressentido que te faz todo dia querer esquecer aquele medo que todo dia tem que lembrar. A mulher brasileira que timidamente comemorava a Maria da Penha, mesmo sabendo que não é cumprida em muitos casos, olha embasbacada tal atrocidade. Dentre as muitas aberrações do tal estatuto, para mim está o fato simples dele existir. Temos um para crianças e adolescentes, uma Constituição para os cidadãOs, e para a mulher? Mais uma obrigação.

Podem falar o que quiserem, colunistas da *seja, pseudo-críticos e "intelectualóides", mais beócios do que qualquer habitante daquela região, não acho que sua vontade de aparecer à la Jabor sublime o fato de que estamos sim dando mais direitos aos estupradores do que tem as mulheres. Como? Como não estamos todas lá olhando nos olhos desses criminosos de gravata e perguntando o porque eles tem tanta raiva de nós. Ainda aquela história do pecado original? Do parir com dor? Não, eu não acredito. Deve ter algo mais.

O que fazer? Talvez eu deva mesmo reconhecer que o dever da mulher é amar e respeitar e ponto. Pensar não faz parte da equação, ter vontade também não. Porque não parar logo com a hipocrisia e substituir a Constituição pela Bíblia? E poderíamos ser mais francos talvez, e ficarmos apenas com o velho testamento pois "Amai-vos uns aos  outros como eu vos amei" pode dar dupla interpretação, colocar um pingo de esperança nos corações das mulheres.

Eu gostaria de saber porque? Qual o objetivo desse estatuto? Colocar todas as mulheres que abortarem na cadeia? Vai caber? Ou é para matá-las mesmo? Vamos continuar com nossa sociedade hipócrita e estratificada com um acréscimo gigantesco no número de viagens para países onde o aborto é permitido, para aquelas abastadas que podem, e o aumento do preço do citotec no mercado negro. Posso até acrescentar um estranho boom de vendas nas agulhas de tricô. Mas a morte é o destino da maior parte das mulheres brasileiras, se esse estatuto do nascituro for aprovado. E sabe o fim desse história? O amado William Bonner vai comentar por 3 segundos, com uma voz bastante séria, que o Brasil foi criticado pela ONU por tal estatuto e em seguida "Vamos aos gols da primeira rodada do brasileirão".

Eu cheguei a pensar que era burrice, mas agora eu acho que é maldade. Uma raiva mais do que edipiana que os homens a frente dessa loucura tem das mulheres. Aquelas que lhes negaram seus carinhos? Deveriam aproveitar e descriminalizar o estupro, faria par perfeito com tal estatuto. O que virá depois? A burca? Me avisem, pois quero estar bem longe quando isso acontecer.