quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A velhice é um banho.

Se do alto dos meus 30 anos de idade a vida me permite aprender algo, posso dizer que esse algo é mesmo que a velhice é um banho. Ou talvez, reformulando a frase, que a velhice fede e por isso você que está velho necessita de um banho.

Quando você é criança, seus parentes e amigos entram numa loja de brinquedos e perguntam para o vendedor onde fica a sessão correspondente a sua idade (e infelizmente també, sexo). Alguém pode até te dar uma roupa, como a minha avó as vezes fazia, mas eu nunca vi criança gostar de roupa. Se gosta, tem algo de errado com ela.

Com a chegada da adolescência os presentes podem ir desde roupas, sapatos e livros até video-games e também alguns acessórios esportivos. A gama de lojas que devem ser percorridas para se encontrar um presente para um adolescente aumenta consideravelmente. Entre quatro e cinco tipos.

Mas quando se é adulto, temos lojas exclusivas até para meias. É tanta opção que chegamos até a ficar sem opção. Dentre as milhões de marcas e preços qual é aquele que irá agradar mais? As pessoas talvez tenham suas lojas prediletas, cores, estilos. Mas se você sabe exatamente o que a pessoa irá gostar, qual é a chance dessa pessoa já não ter aquilo? As opções, apesar de muito variadas, parecem diminuir substancialmente após uma séria reflexão. Pensando bem, para que dar presente se uma pessoa bem resolvida que sabe o que quer, vai lá e compra?

Hum, mas o ato de presentear é uma convenção social muito forte. Presentear porque se gosta de agradar eu nem digo, mas presentear para ser lembrado, para ser impecável, para não dar o que falar. Não importa o que se diga no ato "não precisava". Do presente muitas vezes não se precisa, mas presentear é preciso. E quanto mais o tempo passa, mais presentes estamos acostumados a ganhar. Na sociedade do consumo, presentear é quase um hábito perecível nos presentes. Com tanta superposição, chega uma hora que parece faltar opção. Então se começa a ganhar sabão. Literalmente.

De todos os tipos, cheiros, marcas e utilidades. Muito além do simples poder de lavar, eles lavam a alma, relaxam, são fabricados com as lavandas mais puras colhidas por uma camponesa francesa desdentada e despeteada. Maravilha! Quero eu conseguir viver para usar todos esses produtos de banho antes que eles percam sua validade. Mas porque isso? Uma nova moda? O que aconteceu com o chocolate? Nada contra o sabão, mas me assusta um pouco essa recente semelhança entre mim e as mulheres de 80 anos que conheço. Mais do que uma coleção de poderosos cosméticos milagrosos, temos uma coisa em comum: uma vasta coleção de sabonetes.

Será que isso é só mesmo uma falta de opção, uma coincidência? Ou é um sinal de que começo a exalar aqueles cheiros de quem não consegue mais limpar entre as dobras e precisa de um sabonete espanta gambá? Afinal, desodorante é muito na cara... Será mesmo que envelhecer é feder?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Entrando no clima de Natal

"A-do-ro" Natal.

Não tem pior data no ano. Uma comemoração que ninguém lembra mais o porque e inventamos um monte de desculpas esfarrapadas para explicá-la. "Data para ficar perto de quem ama"; "Presentear aqueles que ama"; "Família e amigos"; "Data de amor e esperança"... e blá blá blá.

Resumindo essas coisas encontramos que a grosso modo o natal é uma data para amar aqueles de quem se gosta. Ora, para isso não é preciso uma data específica, mas enfim, não vamos filosofar demais porque ninguém quer ouvir a verdade mesmo, sobretudo no natal. Mas enfim, de todas as desculpas que se pode inventar para o natal, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo é a pior delas. Como comemorar o nascimento do profeta cumprindo uma dezena de convenções sociais extressantes e despropositadas?

Vamos celebrar o nascimento do cara mais hippie da História nos empanturrando de comidas caras e importadas, trocando presentes que na minha família, é melhor esquecer a etiqueta pregada, pois o tamanho do amor é proporcional ao valor do presente. Sei que vai ter muita gente dizendo que não é bem assim, que nem todo mundo liga pra isso e mais blá blá blá. Mas o que estaremos mesmo fazendo na véspera de Natal se não celebrando o consumo?



Vestindo uma roupa de domingo para ficar na casa de alguém que, normalmente temos intimidade. Vamos quase comer à francesa e desperdiçar uma tonelada de comida. Muitas vezes temos um trabalhão para nos encontrarmos na casa de determinada pessoa e no lugar de uma boa conversa alguém vai ligar a TV na rede Bobo e você vai ter que assistir o Natal da Xuxa ou do Sherek porque ninguém consegue acalmar as crianças a não ser a babá eletrônica.



E para abrilhantar o quadro, vai ter um monte de mulher enlouquecida tendo que cuidar de arrumar a casa e as crianças para a ocasião, cozinhar uma tonelada de comida, organizar amigo oculto e tudo o mais, ficar cinco horas monitorando o cozimento do peru, tentando fazer a social entre a sala e uma cozinha (que vai estar quente pois tem um peru no forno e provavelmente vai fazê-la suar em bicas pois maquiagem não combina com trabalho braçal) e ainda vão ter que aguentar um monte de homem enchendo a cara e reclamando em público que a mulher sempre fica emburrada no Natal e ele não consegue entender o porque, já que ela fez tanta questão de passar o Natal na casa da mãe.

Eu vou, provavelmente ter que passar meu Natal em família tentando me desviar de assuntos polêmicos, nos quais, normalmente, ninguém concorda comigo e exatamente por isso todos vão querer a minha opinião. P. da vida porque o único homem da festa a se oferecer para ajudar vai ser o meu marido e que se assim o fizer vai automaticamente se excluir do clube do bolinha. Meu dia vai ficar mais desconfortável ainda quando começar a troca de presentes e eu tiver que relembrar a todos que já que eu estou desempregada, não vi motivos para gastar os tubos com presentes de Natal. A minha mãe vai "tentar" contornar a situação dizendo que ela, na sua infinita bondade, se ofereceu para pagar os presentes para mim sem se tocar que, sendo presentes de natal algo muito supérfluo, eu preferiria recorrer à bondade alheia em algo que fosse realmente necessário.

É, eu realmente odeio o natal.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Ano ímpar

2012 está acabando e o que posso dizer desse ano? Já vai tarde!

O ano não foi todo horrível. Voltar para o Brasil me deixou muito contente. Tinha saudade da minha família e dos meus amigos. Por mais que minhas amigas na Suécia fossem fenomenais, faltava alguma coisa. Fugir do inverno parecia uma boa pedida, afinal, somos moldados à luz do sol. Acho ainda que faltava eu me sentir em casa. Eu sentia falta do improviso, da bagunça, da espontaneidade... Mas porque? Não sei. Não faz o menor sentido. Depois de chegar me deparei com uma burocracia fenomenal, que te amarra os pés e as mãos e para a qual eu não estava pronta. Dizem que "se acostumar com a direção hidráulica é fácil, difícil é voltar para a normal".

Gente que tem a cara de pau de pedir um comprovante de residência registrado em cartório pois não basta você ir pessoalmente ao local dizer onde você mora. Mas eu me pergunto: qual poderia ser o meu interesse em mentir para o banco a respeito do meu local de residência? Se eu quiser receber minha correspondência na casa da minha mãe apesar de não morar lá? Porque uma conta de uma companhia de telefone mequetrefe que abre contas para qualquer um que forneça um CPF por telefone vale mais do que a minha palavra? Disso eu não sentia falta.

Mas agora aqui estou e tenho que reaprender a lidar com isso. Outra coisa que tenho que reaprender: falta de respeito e jeitinho. Não é o que est á escrito, é o que todo mundo faz. Não é ficar na fila, é ser simpático com quem atende. Não é estar certo, é parecer certo. Talvez de posse dessas valiosas informações eu tenha um 2013 melhor do que 2012.